Se quiser relembrar o primeiro evento, confira o resumo enviado aos os participantes no ano passado.
Realizado em 25 de fevereiro de 2021, de forma virtual, o evento foi uma iniciativa da Embaixada do Brasil em Berlim, organizada em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e a São Paulo Innovation and Science Diplomacy School (InnSciD SP), e contou com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Seu principal objetivo foi dar início a um processo de mobilização da diáspora científica e tecnológica brasileira na Alemanha, como forma de fortalecer o potencial de cooperação com pesquisadores no Brasil e de promover a ciência brasileira.
Pesquisadores das mais diversas instituições, áreas de atuação e localizações na Alemanha e também no Brasil participaram do evento. Dos 700 inscritos, 607 participaram da reunião virtual.
Apresentam-se, a seguir, os principais pontos abordados durante o Encontro.
SESSÃO INAUGURAL
Roberto Jaguaribe, Embaixador do Brasil na Alemanha
- Indicou que, durante o processo de preparação do evento, foram identificados pesquisadores brasileiros em mais de 50 cidades alemãs e atuantes em mais de 60 campos do conhecimento.
- Mencionou os esforços do Itamaraty de mobilizar as diásporas brasileiras de CT&I em diferentes países e de seu potencial em contribuir com a ciência brasileira, por meio de projetos de cooperação.
- Afirmou que a Embaixada está comprometida em apoiar a formação de uma rede de pesquisadores brasileiros na Alemanha, processo que deve ser planejado e liderado pelos próprios pesquisadores.
Prof. Dr. Luiz Davidovich, Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
- Destacou as colaborações que a ABC mantém com sua equivalente na Alemanha, a Academia Nacional de Ciências Alemã Leopoldina.
- Lembrou que o Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas deve aprimorar suas capacidades de inovação. Isso significa fazer com que a ciência produza produtos comercializáveis e que beneficiem toda a sociedade.
- Explorar a biodiversidade brasileira para a produção de novos fármacos é um dos caminhos, assim como a pandemia de Covid-19 pode ser uma oportunidade para novas pesquisas em vacina.
Prof. Dr. Jorge Almeida Guimarães, Diretor-Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII)
- Destacou que a EMBRAPII foi concebida a partir do modelo alemão da Sociedade Fraunhofer.
- Com menos de seis anos, a EMBRAPII já possui 61 unidades e deve chegar a 800 empresas afiliadas até meados de 2021. Hoje, soma cerca de 1.200 projetos e mais de R$ 1,6 bilhão aplicados. Com isso, tem conseguido incentivar a cultura de inovação na indústria brasileira.
- A instituição possui um fundo de cooperação de 10 milhões de euros com a Sociedade Fraunhofer e a ‘Collective Research Network’ (CORNET), uma rede de fomento à pesquisa para pequenas e médias empresas liderada pela Alemanha.
APRESENTAÇÃO – estudo sobre a Diáspora Brasileira de CT&I
Dra. Ana Maria Carneiro, Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), Unicamp (apresentação em PDF disponível)
- Apresentou seu estudo sobre o papel da diáspora de CT&I na construção de redes de colaboração e na internacionalização da ciência brasileira, com escopo nos Estados Unidos e no Reino Unido. O trabalho teve início em 2017 e é conduzido por um grupo que inclui pesquisadores também da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
- Explicou que o conceito de “diáspora” mudou bastante ao longo tempo, tendo passado de uma conotação negativa, de populações forçadamente deslocadas, para determinar grupos de indivíduos de uma mesma nacionalidade em um país estrangeiro.
- Especificamente sobre a diáspora de CT&I, houve evolução positiva na forma como é percebida: antes considerada “fuga de cérebros”, agora é vista como “circulação de cérebros”, e os diasporados têm o potencial de atuar como “antenas” para oportunidades e “pontes” de cooperação com grupos de pesquisadores no Brasil. A nova visão tem incentivado iniciativas como o evento em tela.
- Para que a mobilização da diáspora dê frutos, é importante que as instituições brasileiras partilhem da mesma visão e interajam com os diasporados.
- Uma das recomendações é que os projetos de cooperação tenham escopo inicial limitado e cresçam à medida que ambos os lados ganhem confiança.
PAINEL 1 – Experiências em Instituições Alemãs de Pesquisa e Desenvolvimento e Potencialidades de Cooperação com o Brasil
Parte 1 – Setor acadêmico e pesquisa fundamental
Dra. Fernanda Ramos Gomes, Pesquisadora no Max Planck Institute of Experimental Medicine
Prof. Dr. Sérgio Costa, Diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Freie Universität Berlin
Moderador: Prof. Dr. Abilio Baeta Neves, Membro Colaborador da Academia Brasileira de Ciências (ABC)
- Com trajetórias e áreas de atuação distintas, Gomes e Costa falaram sobre suas iniciativas atuais de cooperação com o Brasil.
- Gomes contou que veio à Alemanha com o intuito de retornar ao Brasil. Por motivos pessoas e profissionais, decidiu permanecer no país. Sempre quis, contudo, continuar trabalhando com o Brasil, o que consegue fazer hoje, por meio de diferentes iniciativas de cooperação. Seu instituto Max Planck é aberto a receber pesquisadores brasileiros, bem como firmar parcerias com grupos no Brasil.
- Costa veio à Alemanha com uma bolsa brasileira no fim da década de 1990 e retornou ao Brasil por quatro anos, tempo em que conseguiu estabelecer conexões com institutos de pesquisa brasileiros. De volta à Alemanha, formalizou cooperações e recebeu diversos pesquisadores brasileiros no Instituto de Estudos Latino-Americanos, da Universidade Livre de Berlim, do qual é hoje diretor e professor. Também conseguiu levar ao Brasil um dos cinco Centros Merien de Estudos Avançados no mundo, o Mecila, financiado pelo Ministério de Educação e Pesquisa alemão, na área de ciências sociais e humanidades.
- Neves, que também foi presidente da CAPES, possui uma longa história de colaboração com a Alemanha, desde a década de 1970. Aproveitou para salientar que um banco de dados com instituições e pesquisadores brasileiros e alemães interessados em parceria poderia fomentar mais cooperação.
Parte 2 – Empresas e pesquisa aplicada
Dr. Eng. David Domingos, Diretor do Centro de Projetos Brasil no Fraunhofer Institute for Production Systems and Design Technology (Fraunhofer IPK)
Dr. Thiago Ramos dos Santos, Diretor de Medical Imaging Research & Algorithms na Bayer
Moderador: Dr. Eduardo do Couto e Silva, Diretor do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)
- Na Fraunhofer IPK desde 2009, Domingos foi responsável pelo estabelecimento de um sólido canal de cooperação do instituto e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Além das questões culturais, ele ressaltou que a necessidade de provar resultados financeiros também é um desafio constante nesse tipo de colaboração. Nesse período, também levou mais de 40 brasileiros para a Fraunhofer IPK, dos quais 95% retornaram ao Brasil.
- Santos iniciou sua relação com a Alemanha ainda no Brasil, por meio de workshops realizados pelo DLR Projekträger. Destacou experiências anteriores no Brasil, em que houve grande dificuldade no estabelecimento de parcerias entre empresas e academia, sobretudo devido a conflitos sobre propriedade intelectual. Mas disse ver avanços nesse sentido e chamou a atenção para as startups de tecnologia que têm nascido dentro de universidades brasileiras.
- Couto iniciou sua carreira no Vale do Silício, nos EUA. Durante os 10 anos naquele país, envolveu-se em iniciativas de mobilização da diáspora tecnológica brasileira. Hoje à frente do LNBR, afirmou existirem oportunidades para pesquisadores altamente qualificados no Brasil.
PAINEL 2 – Criando Redes de Cooperação
Bruna Ferreira Montuori, Presidente da Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido (ABEP-UK)
Dr. Eng. Fredy Rios, Diretor da Red de Investigadores Chilenos en Alemania (red INVECA e.V.)
Dra. Gabriela Marques-Schäfer, Presidente da Rede Brasil-Alemanha Internacionalização do Ensino Superior (Rebralint)
Moderadora: Dra. Sofia Daher, Coordenadora Técnica do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)
- Daher citou estudos realizados pelo CGEE relacionados a avanços da ciência brasileira e a cooperação entre Brasil e Alemanha. Um deles revelou que, de acordo com dados da plataforma Lattes, do CNPq, a Alemanha já formou, desde a década de 1970, cerca de 2 mil doutores brasileiros, consolidando-se como o sexto principal destino de pesquisadores nacionais. Outro estudo identificou que, nos últimos seis anos, houve 12 mil artigos publicados em revistas indexadas na Web of Science, elaborados conjuntamente por pesquisadores filiados a instituições brasileiras e alemãs.
- Montuori apresentou a ABEP-UK, associação criada em 1980 e que possui estatuto próprio e um sistema de eleições bienais. Seus principais objetivos são: congregar os pesquisadores brasileiros no Reino Unido, defender seus interesses, divulgar oportunidades profissionais, realizar eventos. Também funciona como uma rede de apoio e acolhimento, o que tem sido especialmente importante no contexto da pandemia de Covid-19. Montuori destacou o apoio fundamental que recebe da Embaixada do Brasil em Londres, especialmente no que se refere ao estabelecimento de conexões institucionais.
- Rios falou sobre a Red INVECA, rede de pesquisadores chilenos na Alemanha fundada em 2012. Seus principais objetivos são: promover a interação entre pesquisadores chilenos e alemães, manter relacionamento com instituições de interesse no Chile e na Alemanha, divulgar oportunidades profissionais e, ainda, apoiar os pesquisadores que queiram retornar a seu país. Atualmente com cerca de 300 membros, realiza assembleias anuais e, em fevereiro, lançou a revista Cognitas, que divulga a pesquisa realizada por chilenos na Alemanha. O diretor também salientou a intensa relação com a Embaixada do Chile na Alemanha, voltada para a promoção e o fortalecimento da ciência chilena.
- Marques-Schäfer apresentou a Rebralint, organização fundada em 2017, com grande apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), para incentivar a internacionalização de universidades brasileiras. A rede é formada por professores envolvidos em projetos de cooperação com a Alemanha, em todas as regiões do Brasil, e por funcionários do DAAD e de universidades alemãs que atuam no País. Seus principais objetivos são: desenvolver e orientar iniciativas de cooperação, compartilhar experiências e informações, motivar intercâmbios entre os dois países, promover o ensino de alemão e de português e de comunicação intercultural, realizar encontros e fomentar o relacionamento com instituições de interesse.
APRESENTAÇÃO – Próximos passos das iniciativas de mobilização
Daniella Ortega de Paiva Menezes, Ministra-Conselheira da Embaixada do Brasil em Berlim
- Mencionou as iniciativas que a embaixada pretende conduzir junto à diáspora ao longo de 2021. A primeira delas é a criação de uma lista de e-mails com todos os participantes do evento, para facilitar a comunicação e a troca de ideias.
- Deverão ser realizados webinars com temas de interesse dos diasporados, que poderão abordar financiamento de projetos ou incluir entrevistas com pesquisadores notórios, entre outros.
- Outro projeto em planejamento é o de socialização da ciência (‘popular science’), em que membros da diáspora serão convidados a apresentar suas pesquisas a jovens de famílias brasileiras na Alemanha.
- Por fim, o projeto de divulgação científica “Sapiência BR na Alemanha” consiste em uma série de vídeos em que os diasporados contam brevemente sobre suas trajetórias e trabalhos que realizam no país europeu. O intuito é que sejam despertados interesses de cooperação, especialmente por pesquisadores sediados no Brasil.
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E-COQUETEL – Salas abertas de bate-papo
Sala 1 – Oportunidades de financiamento
Alexandre Roccatto, coordenador de Programas Científicos da Fapesp
Dr. Dietrich Halm, diretor de Cooperação com a América Latina na Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG)
- Após breves apresentações, Roccatto e Halm responderam perguntas a respeito de processos de submissão de projetos binacionais de pesquisa para financiamento das referidas instituições.
- Foram esclarecidas, também, dúvidas relativas à elegibilidade para bolsas de pesquisa internacionais de doutorado e de pós-doutorado.
Sala 2 – Interação da diáspora
Dra. Milene Mendes de Oliveira, Pesquisadora no Department of English and American Studies da Universidade de Potsdam
Dr. Uirá Souto Melo, Pesquisador no Instituto Max Planck de Medicina Molecular e no Instituto de Genética Médica da Universidade Charité de Berlim
Guilherme Abuchahla, Pesquisador do Leibniz Centre for Tropical Marine Research (ZMT)
- Os moderadores tiveram como objetivo principal motivar discussões sobre a formação de uma rede dos diasporados brasileiros em toda a Alemanha. Após curtas apresentações, perguntaram aos participantes se haveria interesse e que modelo e objetivos a organização poderia ter.
- O interesse dos presentes foi unânime, e foram apresentadas diferentes ideias sobre suas possíveis atribuições, como, por exemplo: oferecer apoio durante o período de adaptação do diasporado na Alemanha; ampliar a rede de contatos profissionais; auxiliar o estabelecimento de colaboração com grupos no Brasil; atuar como ponto focal de instituições sediadas em ambos os países; divulgar oportunidades, inclusive para quem quiser voltar ao Brasil.
- Os mediadores da sala criaram um formulário, no qual os participantes inseriram seus dados de contato, e se comprometeram a enviar uma minuta sobre a reunião, com sugestões de próximos passos para a formação de uma rede.