Alguns dos principais países de origem de cientistas e engenheiros diasporados no mundo, como Índia e China, já abandonaram o conceito de “brain drain” (ou “fuga de cérebros”, no nosso bom português) há décadas e vêm reinterpretando suas diásporas como oportunidade de colaboração e, portanto, de desenvolvimento de sua ciência e tecnologia nacional. Outros países, como Rússia e México, também já estão adiantados no tema. Nesses lugares, a diáspora virou foco não só de políticas públicas, mas também da própria academia, como objeto de pesquisa.
No Brasil, a atenção ao tema começa a tomar forma. Dois dos pioneiros desses estudos são Ana Maria Carneiro* e Eduardo do Couto e Silva**, que explicam, por exemplo, por que a identificação dos diasporados e o estabelecimento de vínculos institucionais entre eles e os cientistas no país de origem estimulam avanços no âmbito nacional. Em geral, os diasporados vão a lugares em que a pesquisa é mais estruturada e robusta, dispõe de mais recursos e possui maior interação com outros setores, como governos e empresas. Lá, têm a oportunidade de produzir mais, aprender novas técnicas e ampliar sua visão de como fazer e aplicar ciência. Ao mesmo tempo, conhecem bem a língua, a cultura, o funcionamento e as dificuldades de seu país de origem. Quando retornam, costumam ocupar posições de liderança em universidades e empresas.
Contudo, até retornarem, ou caso nem retornem, a maioria deles tem interesse em cooperar com os colegas que ficaram e contribuir com o desenvolvimento da ciência em seu país. Esse é um dos principais pontos observados nos encontros com diásporas promovidos por embaixadas brasileiras em diferentes regiões.
O primeiro desses econtros foi em 2017, na Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, país que tem a maior concentração de pesquisadores brasileiros diasporados. Em 2019, realizaram eventos também as embaixadas de Londres, no Reino Unido, de Zurique, na Suíça, e de Dublin, na Irlanda. Em 2020, foi a vez de Tóquio, no Japão, de Viena, na Áustria, e de Estocolmo, na Suécia. Já em 2021, além da Embaixada do Brasil em Berlim, na Alemanha, estreiam na lista as embaixadas em Haia, na Holanda, em Paris, na França, e em Lisboa, em Portugal. Os Consulados-Gerais do Brasil em Xangai, na China, em Vancouver, no Canadá, e em Boston, Los Angeles, Nova York e São Francisco, nos EUA, também fazem seus eventos. Em todos os países, a expectativa é que os encontros sejam anuais.
Ainda há muito pouco que se sabe sobre as diásporas brasileiras de ciência e tecnologia no mundo, mas é cada vez mais consenso que há nelas um grande potencial desperdiçado. Esses encontros são um primeiro passo para mudar isso. O objetivo é não apenas conhecer e ouvir os pesquisadores, mas também promover a interação entre eles, e, então, buscar formas de fomentar a colaboração com grupos de pesquisa no Brasil – e quiçá até com as redes de diasporados de outros países.
Assim, como íamos dizendo… em um mundo cada vez mais globalizado, e ainda mais intensamente digitalizado por causa da pandemia de Covid-19, as distâncias físicas se tornam menos relevantes, mas as conexões são cada vez mais importantes. É preciso estabelecê-las.
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* Dra. Ana Maria Carneiro é pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (NEPP/Unicamp) e tem apoiado alguns dos encontros com a diáspora científica e tecnológica brasileira realizados por embaixadas do Brasil. Ela estuda a diáspora nos EUA e no Reino Unido. Em setembro de 2020, publicou o artigo Diáspora brasileira de ciência, tecnologia e inovação: panorama, iniciativas auto-organizadas e políticas de engajamento. Carneiro será palestrante do 1º Encontro da Diáspora Brasileira de Ciência e Inovação na Alemanha.
** Dr. Eduardo Couto é atualmente diretor do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), no CNPEM Brasilia. Estudioso da diáspora de C&T nos EUA, publicou, em 2011, o artigo A diáspora científica brasileira: perspectivas para sua articulação em favor da ciência brasileira. Ele será moderador do Painel 1 no 1º Encontro da Diáspora Brasileira de Ciência e Inovação na Alemanha.